FALÊNCIAS SÃO UMA “LEI” REVOLUCIONÁRIA

Segundo a agência de propaganda do MPLA, Angop, o ministro do Comércio e Indústria, Rui Minguês, afirmou, em Malanje, que o Executivo pretende replicar o projecto Biocom em todo o país. Muito bem, tanto que o IGAPE (Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado) revelou que, em relação ao exercício económico de 2022, a lista das 10 maiores empresas em falência técnica é liderada pela Biocom com 320,74 mil milhões de kwanzas (335 milhões de euros)…

Rui Minguês fez esta declaração durante a visita do Presidente da República, João Lourenço, às instalações da Biocom, onde tomou conhecimento das acções em curso para o apoio à actividade dos micro e pequenos agricultores da região que pretendem cultivar cana-de-açúcar.

O ministro considerou que a “Biocom é o exemplo daquilo que podemos fazer para conseguir integrar a produção agrícola dentro de todo o processo industrial, e, também, de como podemos articular esta função de produção com a satisfação das necessidades de consumo das populações”, especificando que a Biocom, enquanto produtor de açúcar e o etanol, já conseguiu cobrir parte significativa do açúcar que é consumido no país.

“O desafio que lançámos à Biocom é que este nível de produção possa aumentar com o compromisso de mais oportunidade de emprego para as comunidades próximas. É também nosso compromisso conseguir que o ciclo de produção seja atractivo para outros pequenos negócios, que possam ajudar a compor uma cadeia de produção de outros tipos de produtos, nomeadamente aqueles que dizem respeito à produção alimentar e à industrialização das pequenas indústrias, para garantir que os alimentos cheguem às famílias a preços justos e com qualidade necessária”, perspectivou o governante.

Instalada no Pólo Agro-industrial de Capanda (PAC), a Biocom tem uma capacidade para produzir 2,2 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, numa área de 40 mil hectares, 250 mil toneladas de açúcar cristal branco, 37 mil metros cúbicos de álcool neutro e para fornecer ao país um adicional de 136 megawatts de energia eléctrica limpa e renovável.

Como não poderia deixar de ser quando se está na presença do dono do reino, o gestor da Biocom, Uirá Ribeiro, reconheceu o papel do Presidente da República no apoio, elevação e importância que dá à Biocom para o aumento da produção nacional e diversificação económica do país.

Uirá Ribeiro explicou que a Biocom é a única empresa agro-industrial do país produtora de açúcar, álcool e energia eléctrica limpa e renovável, através do cultivo da cana-de-açúcar, com uma área plantada superior a 30 mil hectares, localizada no município de Cacuso, na província de Malanje.

O empresário informou que a Biocom contribui, também, para a criação e manutenção de mais de três mil postos de trabalho directos, considerando que 98 por cento da mão-de-obra são nacionais, na maioria do município de Cacuso. Acrescentou que mais de 200 desses trabalhadores estão na empresa há dez anos e 70 por cento dos colaboradores têm entre 18 e 35 anos, muitos dos quais encontraram na Biocom o seu primeiro emprego formal e tiveram acesso à formação profissional.

Uirá Ribeiro afirmou que existe um gigantesco desafio em crescimento para utilizar a capacidade instalada da Biocom para gerar receitas alternativas e obter resultados que permitam honrar o serviço da dívida com a banca e com os accionistas.

“A Biocom é uma empresa de capital intensivo e o crescimento exige investimento considerável em equipamentos e matéria-prima. Desta exigência decorre a necessidade de investimentos atempados para o qual contamos com o apoio dos nossos accionistas”, apontou o gestor.

Segundo o director, a Biocom está a trabalhar, afincadamente, em três pilares fundamentais, com destaque para a produção do milho, feijão e soja, no âmbito do aumento da segurança alimentar, em que estão a ser desenvolvidos estudos através do sistema de rotação dessas culturas com a cana-de-açúcar nas áreas de renovação do canavial.

Com este novo procedimento, realçou Uirá Ribeiro, estima-se atingir, neste projecto que está em crescimento, até seis mil hectares por ano de área para plantio de grãos.

O responsável acrescentou que ainda há muito por se fazer: “Não nos queremos acomodar. Temos de trabalhar mais e melhor para contribuirmos activamente no desenvolvimento do sector agro-industrial angolano, sempre em alinhamento com as políticas implementadas pelo Executivo, por forma a que a entrega de resultados seja mais significativa e a contribuição mais global.”

Relativamente à transição energética, a empresa, segundo Uirá Ribeiro, para além da disponibilidade para produzir o etanol combustível, tem trabalhado na viabilidade técnico-comercial para a instalação de uma planta de produção de hidrogénio verde, com a utilização do excedente da energia eléctrica limpa e renovável produzida pela Biocom.

Enquanto empresa âncora nesta região, de acordo com o director, a Biocom tem trabalhado para criar sinergias que permitam apoiar os produtores independentes da cana-de-açúcar, através de recomendações técnicas e da compra da produção, com o objectivo de potenciar a agricultura regional, além de disponibilizar a estes produtores independentes os serviços de análises laboratoriais dos solos, compra de calcário para a melhoria dos solos e aumento da produtividade das plantas e colheitas.

Uirá Ribeiro reafirmou o total compromisso com o aumento da produção nacional, por via da contribuição para o desenvolvimento socioeconómico de Angola, de forma sustentável.

“Queremos continuar a fazê-lo, gerando empregos e rendimento para a população angolana, investindo cada vez mais na formação e capacitação de novos quadros, apoiando e potencializando os pequenos produtores de cana-de-açúcar, para trilhar o caminho possível e necessário para a auto-suficiência alimentar”, sublinhou o empresário.

Segundo o director da Biocom, há um compromisso com a comunidade no desenvolvimento de projectos no âmbito da responsabilidade social nas áreas da educação, formação profissional e actividades desportivas.

Uirá Ribeiro realçou que, este ano, a Biocom comemora a décima colheita e considerou-a “um marco importante, tanto para a empresa, quanto para Angola”.

“São dez anos de produção contínua que demonstram ser possível produzir localmente e com qualidade. Foram muitos os obstáculos pelo caminho e temos pela frente novos desafios, mas, com a determinação e a resiliência de todos os homens e mulheres que constituem a Biocom, avançamos continuamente, reforçando os objectivos de produzir cada vez mais e de levar os produtos a todos os lares angolanos”, destacou o director da Biocom.

Outras contas em direcção à falência

Os dados agregados sobre o desempenho do Sector Empresarial Público (SEP) relativamente ao exercício económico de 2022 foram apresentados no dia 18 de Agosto, em Luanda, pelo Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE).

A ENDE lidera a lista das empresas do SEP com maiores prejuízos em 2022, o Banco de Poupança e Crédito (BPC), maior banco de capitais públicos, é o segundo da lista com prejuízos de 120,4 mil milhões de kwanzas (133,3 milhões de euros).

Desta lista constam ainda a Companhia de Bioenergia de Angola (Biocom) com 35,5 mil milhões de kwanzas (39,2 milhões de euros), seguida dos Caminhos-de-Ferro de Benguela (CFB) com prejuízos de 14,6 mil milhões de kwanzas (16 milhões de euros), da Televisão Pública de Angola (TPA) com 13,7 mil milhões de kwanzas (15 milhões de euros), e da Empresa Pública de Águas de Luanda (EPAL) com 12,5 mil milhões de kwanzas (13,8 milhões de euros).

O grupo Zahara com 11,4 mil milhões de kwanzas (12,6 milhões de euros), a Empresa Nacional de Navegação Aérea (ENNA) com 5,2 mil milhões de kwanzas (5,7 milhões de euros), a Sociedade Gestora de Aeroportos (SGA) com 4,3 mil milhões de kwanzas (4,7 milhões de euros), e a Aldeia Nova com 1,8 mil milhões de kwanzas (1,9 milhões de euros) completam o quadro do SEP com maiores prejuízos em 2022.

O IGAPE enumera também um conjunto das 10 maiores empresas em falência técnica neste período liderada pela Biocom com 320,74 mil milhões de kwanzas (335 milhões de euros), seguida pela ENDE com 127,93 mil milhões de kwanzas (141 milhões de euros), o grupo Zahara com 77,25 mil milhões de kwanzas (85 milhões de euros), a Angola Telecom com 75,14 mil milhões de kwanzas (83 milhões de euros), e a TPA com 21,48 mil milhões de kwanzas (23 milhões de euros).

Segundo o relatório apresentado pelo chefe de Departamento de Acompanhamento das Empresas Públicas do IGAPE, Ednilson Sousa, as capitalizações às empresas do SEP atingiram os 422,1 mil milhões de kwanzas (489 milhões de euros).

O BPC foi a instituição pública com maior capitalização, em 2022, com 80,41 mil milhões de kwanzas (89 milhões de euros), seguido da TAAG com 39,11 mil milhões de kwanzas (35,5 milhões de euros).

A Empresa de Produção de Electricidade (Prodel), a ENDE, a Empresa de Águas, a Rede Nacional de Transporte (RNT), o Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) e a Empresa Nacional de Diamantes de Angola (Endiama) estão também na lista das mais capitalizadas pelo Estado em 2022.

Em 2020, as capitalizações ao SEP atingiram 206,3 mil milhões de kwanzas (228 milhões de euros), em 2021 foram de 168,1 mil milhões de kwanzas (186 milhões de euros) e em 2022 atingiram 422,1 mil milhões de kwanzas.

A televisão estatal do MPLA lidera ainda a lista de empresas do SEP que beneficiaram de subsídios operacionais, em 2022, tendo encaixado, neste período, 10,65 mil milhões de kwanzas (11,7 milhões de euros), seguida da Rádio Nacional de Angola (RNA) com 8,81 mil milhões de kwanzas (9,7 milhões de euros).

As Edições Novembro, empresa que detém o Pravda (Jornal de Angola), Jornal dos Desportos, Jornal Economia e Negócios e demais títulos, a Agência Angolana de Notícias (Angop), a TV Zimbo, recuperada pelo Estado, o CFB e o Caminho-de-Ferro de Luanda (CFL) também figuram de lista de beneficiários de subsídios operacionais.

Folha 8 com Angop

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